"Foi o que me valeu"
Carlos Pedreira, advogado e engraçado, entra no relato de Leonardo Mota, no Tempo de Lampião. A passagem é esta :
Certa vez, passei a atuar num processo de desquite. Como esses processos são sempre escandalosos, interferi junto aos cônjuges, a ver se os reconciliava.
A esposa era uma jararaca velha ciumenta. Feia e desdentada, casara-se em segundas núpcias com o meu constituinte.
Atendendo ao meu pedido para que dissesse francamente as razões que a levavam a desquitar-se, ela não hesitou :
- Doutor, eu não aguentei ingratidão do finado, quanto mais deste!
Felizmente, o defunto meu primeiro marido está hoje prestando contas a Deus das noites e noites que me fez passar em claro.
Agora, faz seis mês que eu estou casada com este cidadão. Os primeiros três mês viveu-se em paz. Ele tratava de me agradar e eu a ele. Mas, de certo tempo pra cá, este homem se desencabeçou, pensa que eu sou peixe podre, se esqueceu que é casado comigo, virou oficial de varruma (conquistador) e vive espalhando o sacramento pela rua..( prevaricando..).
- Mentira sua ! Exaltou-se o acusado. E como prova de que cumpria os seus "deveres", e procurando desabotoar a camisa :
- Inda na semana passada você deu-me uma dentada aqui no peito, que eu não sei como não me arrancou um chaboque... Está aqui a roncha !
- É menos verdade ! Titubeou ela, mostrando as gengivas. É menos verdade : a prova é que eu nem dente tenho...
Ele pôs levemente a mão sobre o peito equimosado e resmungou :
- Foi o que me valeu...
Boa Dr. Muito boa. As nossas mulheres tem dentes bons. Ainda bem que somos comportados. Tô com saudade de você chefe. Um abraço.
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