Verdade que à falecida faltavam dois dentes. Faltava-lha também aquele sinal (um cravo) sob o olho esquerdo.
Aos olhos da dona da casa, “esta mulher não é minha mãe, mamãe era menor do que esta”.
Mas no documento do hospital a defunta era dona Floripa,
Chamada, a morta foi posta em bonita urna defuntícia, flores foram postas em volta do corpo e, claro, o choro, as orações, os meus pêsames próprios dessas ocasiões. O cafezinho servido aos condoídos visitantes, tudo era feito segundo manda o ritual dos velórios.
O féretro (ETA palavrinha besta) sairia da casa ali por volta das cinco vespertinas. Tudo corria dentro dos conformes quando na porta da casa pára outro carro funerário; dentro dele um outro cadáver de mulher.
Essa aí, sim, essa ai é dona Floripa, bradaram familiares e amigos; até a inconsolável órfã respirou um tanto mais aliviada, “essa agora é minha mãe, graças a deus”. Esfarrapadas foram dadas à família.
Um ligeiro engano dera origem à troca dos dois corpos”.
A senhora sabe como essas coisas acontecem, aceite nossos pêsames e também nossas desculpas pelo incômodo”.
Só então dona Floripa, já devidamente pranteada e de alma encomendada a deus, tomou o seu devido, mas certamente não querido lugar no caixão e na sala do velório ora marcada para a derradeira viagem, enquanto a outra defunta, que ninguém sabia quem era, foi devolvida ao necrotério do hospital, agora sem choro nem velas nem flores.
O caso é real e aconteceu em Goiânia (GO), em abril de 2010.
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