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Advogado militante no Estado do Maranhão, formado em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco. Especializado em Administração Pública pela Universidade Estácio de Sá do Rio de Janeiro. Presidente da OAB/MA - subsecção de Bacabal (2004-2009). Conselheiro Estadual da OAB/MA (2010-2012).

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quinta-feira, 17 de novembro de 2011

COMPORTAMENTO. Elas amam demais?

Não. Elas (e eles) apenas sofrem demais.


POR IVAN MARTINS

Editor-executivo de ÉPOCA
Todo mundo conhece mulheres que amam demais - são aquelas que desabam quando os homens vão embora.


Ainda que elas vivam reclamando do sujeito, desmoronam no momento em que ele as deixa: não conseguem trabalhar, não conseguem dormir, não conseguem viver. Os amigos acorrem, a família se alarma, médicos são acionados. Mas nada é capaz de ajudá-las, nem ninguém. O desejo de viver parece ter sido levado pelo cara que foi embora. Tudo o que elas conseguem fazer é pensar nele. Mulheres que amam demais são obcecadas.


Conheci um rapaz que se envolveu num enredo desses.


Depois de um ano de namoro disfuncional – muita briga, um monte de sexo e nenhum plano em que coubessem os dois – o cara resolveu que era hora de terminar. Achou que a moça, que vivia reclamando dele, receberia a notícia sem surpresa, até com alívio. Qual nada. Assim que ele anunciou que não queria mais, ela sucumbiu. Não ali, na frente dele. Começou no dia seguinte, ao telefone: parecia outra pessoa, de tão abatida. Disse que não estava conseguindo sem ele. Depois começaram os torpedos no celular, num tom entre choroso e desesperado. Vários deles ao dia, que ele respondia meio sem jeito, tentando animá-la. Então as amigas dela começaram a ligar, deixando saber que a moça estava “praticamente suicida”. Sugeriam que ele fizesse algo. Mas fazer o quê, voltar? Ele não queria, muito menos com tanta confusão. Da última vez que eu soube do caso, ela continuava atrás dele, que tinha decidido bancar o doutor House: “Eu fico firme, mantenho a distância e digo a ela está fazendo papel de louca. Uma hora ela vai entender.”


Será?

Algo me diz que há muito mais a entender na vida dessas mulheres do que um pé na bunda. Mulheres e homens, aliás. Não são poucos os barbados que fazem esse papel desesperado. Rejeitados, preteridos ou abandonados, eles também abraçam o desespero como se não houvesse alternativa. Estão convencidos de que a vida sem aquela mulher não vale a pena. Desistem, ou quase isso – até que a próxima paixão os salve, e, tempos depois, os atire de volta ao fundo do buraco amoroso.


Eu tenho a impressão, porém, de que há menos homens assim do que mulheres, e não por razões biológicas. É que a cultura masculina, ao contrário da feminina, desestimula esse tipo de atitude. Quando o sujeito abandonado começa a enlouquecer, é mais provável que as pessoas digam, “Pô, rapaz, para com isso!” do que “Ai, amigo, eu te entendo tanto...” Faz diferença. Esse tipo de dor é uma questão íntima, claro. Pertence mais ao terreno da psicologia do que da sociologia. Mas a maneira como o mundo recebe certos comportamentos pode incentivar que eles ocorram. E o mundo, decididamente, está acostumado ao sofrimento amoroso das mulheres.


Há também o drama da cronologia. Homens com 30 anos acham que a vida está começando. Algumas mulheres com 30 anos sentem que já estão perdendo o bonde da própria vida. Dois relógios quebrados, mas cada um deles produz seu tipo de maluquice...


Seja ele feminino ou masculino, por trás desse bolero agonizante há um tipo de personalidade cuja principal característica, me parece, não é amar demais – é sofrer demais. Arrisco dizer que essa explosão de sentimentos não tem sequer relação verdadeira com o amor. Penso nos milhões de pessoas que amam de forma tranquila e profunda os seus parceiros. Penso em muitos que são deixados a cada dia e atravessam com dignidade o seu percalço. Penso naqueles que acordam de manhã, encaram o vazio e se levantam. Minha conclusão, diante do exemplo deles, é que não há correspondência entre a dor que se exibe e o amor que se sente. A dor dos sofredores é real. O amor eu não sei.

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