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Advogado militante no Estado do Maranhão, formado em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco. Especializado em Administração Pública pela Universidade Estácio de Sá do Rio de Janeiro. Presidente da OAB/MA - subsecção de Bacabal (2004-2009). Conselheiro Estadual da OAB/MA (2010-2012).

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domingo, 4 de dezembro de 2011

Apelidos de políticos maranhenses.

Além de soltar boatos e gostar de falar mal da vida alheia, o maranhense esmera-se numa arte que cultiva ao longo dos anos, fazendo-a com prazer, mordacidade e perspicácia.

Trata-se da vocação para o exercício do apelido, qualidade (?) em que somos mestres. As vítimas dessa prática são geralmente os que nem sempre estão à altura de ocupar cargos, funções e profissões na vida pública ou privada.

Em represália aos que cometem ações nada corretas ou exemplares, o maranhense recorre ao expediente do apelido, como forma de castigá-los, estigmatizá-los, execrá-los ou desmoralizá-los junto à opinião pública.

Os políticos, especialmente os que exercem cargos no Executivo e no Legislativo, cujos nomes estão em evidência ou em posição de visibilidade, são alvos prediletos dos artífices dos apelidos, propagados e que chegam às ruas através dos meios de comunicação.

O hábito maranhense de colocar apelidos em políticos não é de agora. Na fase colonial, os governantes nomeados pela Coroa portuguesa ao chegarem a São Luís, não demoravam ser agraciados pela população com epítetos e alcunhas, quase sempre depreciativos.

Jomar Moraes, em crônica publicada neste jornal, revelou que “nem os altivos e circunspectos capitães-generais da Colônia escapavam a essa espécie de crisma do lugar: Fernando Pereira Leite de Foios (1787-92) era o Cavalo Velho; D. Francisco de Melo Manuel da Câmara (1806-9), por ser moreno, foi apelidado de O Cabrinha; Paulo José da Silva Gama (1811-19), o Coruba ou General Lentilhas, alusão às suas muitas sarnas; o Marechal Bernardo da Silveira Pinto da Fonseca (1819-22), último governante do período colonial, Dente de Alho, por causa de um dente incisivo muito saliente na arcada superior”.

No período imperial, até os dois partidos que gravitavam na política maranhense - o Liberal e o Conservador ficaram mais conhecidos pelos apelidos do que propriamente pelos nomes de origem.

Enquanto os membros do Partido Liberal, liderado pelo alcantarense Joaquim Franco de Sá, eram chamados de “bem-te-vis”, “marrecos” e “luzias”, os que vestiam a camisa do Partido Conservador, comando pelo também alcantarense Silva Maia, eram cognominados de “estrelas”, “saquaremas” e “cabanos”.

Na fase republicana, sobretudo após o advento da Constituição de 1946, em que as liberdades de expressão e as garantias individuais ganharam mais força, o imaginário coletivo caprichou na arte de aditar o apelido ao nome dos políticos.

Governadores, senadores, deputados federais e estaduais, prefeitos e vereadores foram apelidados, alguns com epítetos inofensivos ou jocosos, outros, porém, com alcunhas agressivas ou depreciativas.

Dentre os governadores que passaram pelo Palácio dos Leões, nada menos do que nove tiveram seus nomes agregados a apelidos: Sebastião Archer da Silva (1947-50), Boi Marrequeiro; Eugênio Barros (1951-55), Cara de Tacho; Eurico Ribeiro (1956-57), Marta Rocha; José de Matos Carvalho (1957-61), Peito de Pombo; Newton Bello (1961-66), Cara de Onça; Alfredo Duailibe (1966), Mona Lisa; José Sarney (1966-70), Zé Curió ou Zé Meu Filho; Pedro Neiva de Santana (1971-75), Mandacaru; João Alberto (1990-91), Carcará.

Não devemos esquecer que o interventor Martins de Almeida, aqui chegado em 1932, nomeado por Getúlio Vargas, para reorganizar a vida partidária maranhense, foi aureolado com o apelido de Bala na Agulha.

No Senado da República, três representantes maranhenses não foram perdoados: Vitorino Freire, José Neiva e Carvalho Guimarães. O primeiro ficou conhecido por Cabra de Moxotó; o segundo, por Àguia do Sertão; o terceiro, por Chapéu de Côco;

Na Câmara de Deputados, vários parlamentares de nossa bancada também receberam apelidos: Clodomir Millet, Turquinho do Ademar; Raimundo Vieira da Silva, Tatu; Renato Archer, Marinheiro da Destinação; Cid Carvalho, Carrapeta Elétrica; Pires de Sabóia, Zé Bobó; Henrique de La Rocque, Beato; José Burnett, Patinha Dourada, Temístocles Teixeira, Dragão; Neiva Moreira, Caramuru; Alexandre Costa, Nariz de Cera.

No âmbito da Assembleia, não foram poucos os agraciados: José Maria de Carvalho, Zé Doidinho; Francisco Chagas Araújo, Chico Clorofórmio; José Machado, Zé das Misses; Aldenir Silva, Cara de Gato; Alderico Machado, Sabiá Molhado; Eduardo Viana Pereira, Boi de Goiás; Joel Ribeiro, Padre Bacalhau; Fernando Viana, Pichilau de Horta; Francisco Sá, Facão Mole; José Henrique Belo, Moita.

Da Câmara Municipal de São Luís, deve ser lembrado o vereador Luis Alves, que se tornou famoso pelas suas irreverências e chacotas. Mais conhecido por Papagaio, dele ficou perpetuada a saudação feita ao ministro Jarbas Passarinho, em pleno regime militar, numa sessão em sua homenagem, em que disse: - A tarefa que me foi dada, ministro, é das mais gratas, porque vou falar de ave para ave, pois se Vossa Excelência é Passarinho, eu sou Papagaio. Por isso, dirijo-me a Vossa Excelência de asas abertas.

Roda Viva - Benedito Buzar

Imirante.com

Um comentário:

  1. Carissimo Dr. Rogério,
    gostaria de parabenizar-lhe pela matéria transcrita dos escritos de um dos mais renomados escritores e jornalista do nosso pais, o maranhense Jomar Moraes, o qual tive o prazer de te-lo como professor de literatura. Um dos maiores intelectuais que conheci, que era amigo e parceiro de um outro grande poeta do Maranhão,o saudoso Erasmo Dias, que foi um dos grandes fregueses meu, quando eu exercia a profissão de motorista de táxi em São Luis. Quando a gente Lê um escrito do professor Jomar Moraes, a gente se deleita na mais bela arte literária de um escritor da nossa amada ilha de São Luis, ainda mais quando relata fatos concernente a nossa história antiga que até parece conteporânea. Dizer que tenho um grande respeito e consideração pelo nobre amigo, não se faz necessário,mas aceite ainda mais a minha admiração por gostar de ler bons textos. Você é o cara.

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