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Advogado militante no Estado do Maranhão, formado em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco. Especializado em Administração Pública pela Universidade Estácio de Sá do Rio de Janeiro. Presidente da OAB/MA - subsecção de Bacabal (2004-2009). Conselheiro Estadual da OAB/MA (2010-2012).

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domingo, 23 de outubro de 2011

Canto é arma de ressocialização de presos no CPD, em Pedrinhas.

Quando uma notícia nasce no Centro de Detenção Provisória (CDP), o popular Cadeião, em Pedrinhas, costuma-se esperar algo tenebroso. O ambiente ali é nefasto e tenso. Em corredores insalubres, a maioria das celas aloja o dobro da capacidade máxima - que é de oito pessoas. Ameaças de motim e o clima de apreensão são rotina para servidores e terceirizados responsáveis por manter a ordem na unidade. Foi nesse cenário, desfavorável ao bem-estar de qualquer ser humano, que O Estado constatou, numa manhã escaldante, uma semente de paz: um grupo de 40 detezntos que espanta males dos mais diversos por meio do canto coral.

Por meio de uma autorização especial obtida pela União Internacional dos Pastores e Capelães Voluntários (Unipas), o jornal pôde acompanhar, com exclusividade, uma apresentação do Coral Plenitude em uma das áreas reservadas ao banho de sol no CDP. Regidas pela missionária Kelcimayra Rubim, as vozes entoaram canções com vigor. Nas letras, mensagens de paz, liberdade, fé e, sobretudo, esperança - sob o olhar atento da vigilância armada e de outros detentos.

“Ser parte desse trabalho [de evangelismo no CDP] e estar no coral é uma oportunidade que Deus me deu. É uma segunda chance que eu tive para mudar”, disse José Wellington, 30 anos. Preso há um ano e cinco meses, ele disse achar conforto no trabalho religioso que é desenvolvido no local.

Parceria - No dia a dia do centro de detenção, ações desenvolvidas pela Assistência Social - como a prática de artesanato - somam-se ao esforço voluntário de missionários e capelães. Missionárias de uma igreja evangélica de São Luís são responsáveis pelo coral e pela realização de cultos. Já a Unipas, além de apoiar esses e outros trabalhos, realiza ações sociais e de orientação espiritual no Cadeião e nas demais unidades prisionais da capital. “Lutamos por um objetivo maior: promover a paz no sistema carcerário de São Luís”, assinala o Pr. Edilson França, coordenador da capelania prisional da Unipas. “Não é fácil, pois trabalhamos muitas vezes contra uma realidade caótica e carente de apoio. O papel da capelania é ser parceira do trabalho de assistência social que é realizado nos presídios”, acrescentou.


Mudança - De terno e gravata, o detento Antônio Pestana Costa, membro do Coral Plenitude e dirigente do trabalho evangelístico no CDP, diz sentir o gosto da liberdade, apesar do cárcere. “Com esse trabalho, nós conseguimos trazer paz para a vida dos companheiros. Não é fácil, mas temos visto muitas pessoas sendo transformadas por Deus aqui”, afirma, com um largo sorriso. Questionado sobre as dificuldades enfrentadas na tarefa de evangelizar no CDP, Pestana responde, resignado: “Em vez de dificuldades, eu prefiro falar de vitórias. Se a gente olhar para as barreiras, não consegue seguir adiante aqui dentro”.

Reincidente em unidades prisionais, Francisco Carlos dos Santos, o Irmão Chicão, 40 anos, reconhece que a transformação de vida é muito difícil para qualquer detento. A falta de oportunidades e o desprezo da sociedade, fardo da herança prisional, são obstáculos árduos a serem vencidos. “Tenho procurado ser um instrumento de Deus aqui dentro. Pretendo continuar nessa busca. O que me consola é saber que no meio desse deserto existem homens e mulheres de Deus”, diz.

Cultos evangélicos acontecem no CDP de segunda-feira a sábado, pela manhã e à tarde. Cerca de 70 detentos, incluindo os 40 que compõem o Coral Plenitude, são assíduos nas reuniões.

Mais
O Centro de Detenção Provisória (CDP) tem capacidade para 402 detentos, oito para cada cela. Segundo a direção da unidade prisional, 630 detentos esperam no local por uma decisão judicial que lhes conceda liberdade ou transferência para unidades de detenção definitiva. Segundo a Assistência Social do CDP, entre as causas da superlotação, está a morosidade da Justiça e a medida que impossibilidade de permanência de presos provisórios nas delegacias.


Clóvis Cabalau Coordenador de Redação

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